segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Chico Buarque para todas as situações: "Depois te afagava, moreno Como se afaga um cão"

Se Eu Fosse Teu Patrão
Eu te adivinhava

E te cobiçava

É, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu cuidava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não precisava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão
Se eu fosse o teu patrão...

Eu te adivinhava
E te cobiçava
É, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu cuidava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não precisava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão
Se eu fosse o teu patrão...

domingo, 15 de novembro de 2009

Conhecer a felicidade nos vincula eternamente à sua busca!Resgatando a menina de 1989!

Democracia era a palavra. Liberdade o princípio!O maior xingamento era "alienado".Era o máximo ter o título de eleitor no bolso para exibir entre os colegas. Fiz 16 em 12 de março e no mesmo dia meu título("arma incontestável contra qualquer ditadura")já estava comigo. Tinha um gostinho muito especial votar para presidente pela primeira vez . Era minha única primeira experiência que os adultos também viviam. Foi o rito de passagem:deu até uma tremedeira na hora de assinar a ata da minha mesa de votação ali no Colégio Municipal Pelotense.15 de novembro: passamos para o segundo turno. Felicidade demais! Todos juntos vamos mudar o mundo!E é tão bom acreditar nas gentes. É a potência maior do que se conhece por amor, compartilhar uma concepção de mundo e construí-lo ombro a ombro.A sensação deste amor é tão completa que uma vexz realizada, só se quer e só se procura realizá-la novamente. Paz e alegria para todos.Perdoem os que não gostam mais do cara,mas vale Caetano Veloso para descrever: "Eu sempre quis muito,falo de qualidade e intensidade.Tudo é muito pouco. Luxo para todos".Tenho dúvidas se eram os tempos ou se éramos nós,mas o fato é que existe este Brasil que participa, que respeita e realiza e nós o vimos nas ruas de 89.Buscar este país no que ele essencialmente é tornou-se o meu motivo para não desistir: o Brasil de todas as cores, de todas as etnias, da biodiversidade, da pluralidade.Mais que estrutura este lugar que quer acreditar que vale a pena. E vale!Porque se já fizemos uma vez fazemos de novo!Nos tempos da Constituinte de 88 mobilizamos e aprovamos o texto constitucional mais avançado do mundo.Conto este documento como a tese que funda o Brasil dos nossos tempos.Para alguns vai parecer pouco,mas para mim tá bastando:20 anos depois de conhecer este "Poder", tá na hora de valorizá-lo e refundá-lo em cada ação cotidiana:Nós fizemos na pressão das ruas a constituição de 88, agora é fazer valer!Para poder dizer que há democracia,que sabemos porque estamos juntos e o que é ser soberano e livre. O mínimo que se pode fazer> Ainda tem coisa melhor por vir,mas por agora já é instrumento o suficiente para começar a trabalhar!Eu acredito e me nego a desistir do amor pela vida, da alegria de abraçar estranhos reunidos na rua em segurança.Mais que guerrear,nós merecemos viver!Viver o que temos de melhor, a alegria de estarmos juntos,de não temermos mais a violência do Estado.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sobre Pelotas e a violência com seus filhos!


Eu sei que tive o melhor de Pelotas: gente interessante e amiga, generosa.Altos papos e celebrações...Respeito ao debate,alegria de estar junto.Quando descobri a aridez espiritual do mundo fora daqui e a dureza de estar diferente em um jogo social entre jogadores sem vínculos pensei em voltar para o ninho e pretender a felicidade possível. E Pelotas se fez Mãe novamente: me acolheu nos estudos de Filosofia festejando a minha volta ao mundo dos vivos enquanto os outros lugares celebraram menos um jogador. Mas, nem tudo é perfeito, e nem só de amor vive esta cidade de gente tão instruída e interessante. Minha diferença é física,meu salário de aposentada é concretude determinante dos meus acessos e as (i) responsabilidades do estado aqui não são diferentes dos outros lugares menos significantes para mim. Os serviços de transportes são pífeos e não absorvem um vínculo como necessito para assistir aulas, os tratos são pouco ou nada profissionais, os preços não tem qualquer diferencial para o usuário constante e a infraestrutura da cidade é cruel no bairro em que posso morar a ponto de ser mais saudável e compatível com minha condição de esforços morar em outro município e frequentar a UFPel utilizando ônibus cooperativado que morar no Fragata (onde moro) e depender da instabilidade de humores das chuvas,dos medos de pessoas que exercem suas concessões de transporte como as relações familiares (sem carater profissional e sem observação das necessidades do usuário que atende)ora,é preciso lembrar que táxi é concessão pública e não bico onde a mamãe aloja o filhinho fracassado para ele ter um "bico", aliviando os gastos da família de origem, brincando de adulto incluído.Desde o início das aulas não quis solicitar regime especial de estudos por entender que o debate em aula enriquece a formação e me faz participar da vida política real da Universidade,mas estou vencida: Não há uma política de inclusão para além do regime especial que me daria o direito de exercer tarefas domiciliares que contem como frequência e avaliações. Reconheço minha incapacidade diante da Violência do não acesso pela falta de observação e abro mão do convívio com meus colegas, por não poder pagar, a não ser mensalmente,por não suportar as dores alguns dias. Abro mão e imploro: Concedam-me o regime especial,pois não suporto a inconstância dos acessos às ruas da minha cidade,decretem-me logo a prisão da invalidez absoluta que parece ser a única destinação para o pelotense que insiste em não morrer mesmo quando é o único que se espera dele. Insisto: mesmo com as impossibilidades que trago amo a vida entre meus iguais e desejo mais que qualquer coisa continuar meus estudos de filosofia, concedam-me o regime especial para que as exigências para o meu existir não sejam maiores que as minhas forças. Encaminho hoje este pedido ao meu colegiado e disponibilizo-me desde já às perícias correspondentes para esta concessão.De tudo que está ao meu alcance estou encaminhando.Porque direitos humanos respeitados incluem o direito à singularidade e à vida com todas as cicatrizes que carregamos na forma física e mental.