sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Postagem com o Texto do Frei Betto!

DE QUANTAS COISAS NÃO PRECISO PARA SER FELIZ?
 
    
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.  Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super-homens e super  mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se  apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba  precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.        (***)

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental  três requisitos são indispensáveis: amizades,  autoestima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo  hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"
Frei Betto

Leitores atentos, trabalhos dobrados!Corrigindo um descuido grave!

Dia destes recebi  por email um texto do Frei Betto ( velho companheiro dos antigos tempos do antigo PT) que gostei muito e postei em todos os meus espaços pessoais: blogs,twitter,orkut...enfim, onde pude reproduzi-lo. O Betto é um educador por excelência, conversa com quem quer que seja e traz esta marca nos seus textos.Como a postagem começava com a foto mais veiculada do autor, entendi ser aquela a citação necessária. Mas tenho um leitor especial ( Meu Pai) que nunca perdeu atrenção em nenhum dos meus passos que me chamou atenção para o equívoco. Hoje refaço a postagem com a devida citação do autor. Agradeço a observação criteriosa do meu velho que sempre me exigiu o melhor que pudesse oferecer. Sei que de tudo que pude realizar na vida ele é responsável por uma grande parcela de meu melhor desempenho.Que pudéssemos todos contar e confiar nas críticas fraternas de nopssos iguais omo posso confiar nas do meu pai e da minha mãe.Vocês continuam sendo meus exemplos de vida e dignidade humanas. Obrigada por tudo, sempre!

sábado, 29 de maio de 2010

Uma conversa sobre o Tempo com meus filhos!Os dois:Tom e Anna.

Meu filhos amados, das palavras do Mário de Andrade faço as minhas e conto onde estou hoje:
O Valioso Tempo dos Maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

http://www.youtube.com/watch?v=OkrKwFjohjw


Meus filhos amados,
Hoje, com 37 anos, quero ter uma conversa com vocês sobre a vida e a morte no nosso tempo biológico. Aos 22 anos fui mãe do Tom, com todo o amor que lhe guardo até hoje, com muitas limitações e dificuldades, mas com um vínculo insuperável e muita certeza do amor que nos une para sempre.Uma gravidez conturbada, um nascimento turbulento, muitos sustos e um trabalho árduo para mantê-lo entre nós.Meu Deus,de onde mãe tira forças para suportar luta tão intensa? Mesmo nos momentos de incerteza sobre a vida ou a morte estivemos unidos. Há pouco há este estranhamento.Mesmo no tempo em que estive envolvida com o que não era essencial ( as reuniões, as campanhas, as afirmações externas do mundo do trabalho)sempre estive do seu lado.E agora, que guardo Anna no meu ventre e já tens 15 anos,moras longe e pouco nos vemos desejo profundamente que me perdoe o desperdício do seu tempo e do meu tempo de vida quando tudo que há de mais importante está em tê-lo, em amá-lo.Meu filho, aos 22 anos se tem muito para provar, muito para fazer, exigências a cumprir expectativas a responder. E eu já era tua mãe, tinha, naquele período muito mais obrigações que direitos. Sou de uma geração e de um meio que exigiu das mulheres a abstenção de qualquer sonho doméstico. Realizar era intervir no mundo, ganhar poder, dinheiro, status social. Dentro das minhas possibilidades realizei todo o possível destas esferas. Ao falhar a minha saúde estive amparada por este esforço e talvez isto proporcione à tua irmã e mesmo a ti, o direito de ter uma mãe dedicada ao essencial: ao tempo que teremos juntos( mesmo que agora o intua muito curto)ao cuidado materno do futuro de seus rebentos, ao amor cotidiano e familiar.Filho, confio no teu bom coração, na tua capacidade de amar e te fazer amar.Sei que vais amar tua irmãzinha como sei que me amas e quero que participes ao máximo da sua chegada e do resto da sua vida.Vocês e poucas linhas do meu pensamento são a obra de toda minha vida. Todo o meu amor, minha energia,inteligência se sintetizam em vocês. Já não tenho tempo para perder, restam poucas cerejas na minha bacia e talvez nem tenha a felicidade de dar à Anna a presença que te dei no início da vida. Talvez, se permanecer neste mundo depois do nascimento dela, possa te reencontrar como companhia diária e amorosa e possa oferecer a vocês dois juntos o tempo precioso de tudo que é essencial: o amor, a alegria de estar junto e crescer mutuamente. Meus amores,espero dos dois o perdão das dores que quem dá a vida proporciona e o amor que possam sentir por mim.Onde quer que eu esteja,estarei com vocês. O que quer que faça parte de meu presente ou futuro será dedicado sempre aos dois,meus pedacinhos de amor eternizados. O passado é imutável,o presente esgota-se rapidamente,o futuro é o único terreno onde se pode apostar, mesmo incerto é mais seguro se partirmos do aprendizado que já temos.Sejam felizes, cuidem-se bem,amem a vida, façam bem,cuidem do planeta e da humanidade. Sejam responsáveis. Muito mais pela alegria de fazer o que deve ser feito que para qualquer correspondência. Vivam a vida e deixem a vida viver! O mundo é abundante e vocês são amados para sempre e por todo o planeta. Abracem a luz do sol todos os dias, sintam a brisa da lagoa sempre que possam.Estou com vocês sempre no mais profundo do meu espírito. Amo vocês, filhos amados, e os quero sempre por perto.O mais que possa e o mais que seja bom para vocês!Um abraço apertado e um colinho carinhoso da mãe.

sábado, 22 de maio de 2010

VIVA SÓCRATES!

DE QUANTAS COISAS NÃO PRECISO PARA SER FELIZ?
 
    
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.  Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super-homens e super  mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se  apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba  precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.        (***)

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental  três requisitos são indispensáveis: amizades,  autoestima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo  hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

YouTube - SANTO DAIME -hino Esta força - cruzeirinho Mestre Irineu

YouTube - SANTO DAIME -hino Esta força - cruzeirinho Mestre Irineu

Relato Trabalho Santo Daime 28 de março de 2009. CEU Trilha de São Francisco Pelotas RS

Nesta concentração,durante a meditação silenciosa estendi minha atenção ao irmão Fred, que sentava à minha frente naquela ocasião.O vi como um negro muito forte e grande, como de fato o era o próprio Fred( embora fosse branco)preso ao chão por algemas grossas e correntes pesadas pelos pés e mãos.Puxava as mãos e os pés sem sucesso, contorcendo-se,expressando estes movimentos inclusive através do corpo físico do próprio Fred. Depois de muito esforço ele se libertou das correntes e ergueu-se como afirmação da sua liberdade. Em seguida sentou-se e foi-se transformando rapidamente em uma mulher negra que, terminada a transformação, sentou-se mais acomodada e de seu entrepernas vez por outra retirava um bebê e embalava carinhosamente chamando de filhinho ou filhinha. Ia os colocando um a um no chão ao seu redor. Eram todos diferentes entre si: brancos,pretos,pardos,nipônicos, gordos e magros, meninos e meninas,mas guardavamalgo entre si que denunciava a irmandade( ou grau de parentersco).Quando já contavam dezenas de bebês, um deles, o último, ela manteve no colo: este parecia um filho biológico do próprio Fred. Tinha suas características hispânicas e era gordinho. Neste momento ao alto e à sua direita apareceu Nsa Sra envolta em um azul brilhante e por sobre uma espécie de nuvem de rosas champagne. As crianças que estavam ao chão pareciam imantadas por aquela figura e passaram a circundar seus pés, junto às rosas. Enquanto o último bebê permanecia no colo da mãe negra que lhe acarinhava.À frente e à esquerda da mulher,não tão ao alto,mas acima dela,apareceu Mestre Irineu que se postava em evidente reverência à Nsa Sra, recebendo dela palavras que lhe mandava (e eu não consegui identificar). Ao mesmo tempo que a Soberana mandava palavras a ele, à ela mostrava cores e luzes. Neste interim eu observava de fora do quadro. Após a sessão, todos nos abraçamos, como de costume no CEU e Fred veio logo me agradecer a companhia no trabalho.Na ceia posterior todos comentavam da opção de pernoitar no local e eu, que havia casado há 2 dias, pedi que alguém me levasse p casa ainda naquela noite: pedido que Fred atendeu prontamente dizendo que mal podia esperar chegar em casa com os pais.No caminho íamos falando justamente da sua vontade de abraçar os pais e dizer que os amava pq agora sabia o que era ter um filho. Só não sabia qual seria a reação deles ao serem acordados de madrugada para estas declarações. Eu comentava com ele que seria uma grande alegria para mim um dia ser acordada pelo meu filho no meio da madrugada e ouvi-lo dizer que me ama. O encoragei a fazer o que planejava pq acreditava que eles se sensibilizariam com a intensidade de tudo que ele me contava. Disse ainda que o abraço do filho é insubstituível e tudo o que uma mãe espera é poder tê-lo completamente dedicado a um carinho destes,mesmo que às 4 da manhã, depois de uma sessão do Santo Daime. Rezei intimamente durante a nossa conversa para que eu e meu filho tivéssemos tempo para um evento como o que Fred me narrava e desejei não morrer antes que o Tom pudesse me dizer com aquela convicção que me ama. Senti sinceramente que seu abraço é insubstituível e o quis por perto.
Nas sessões subsequentes Fred estava presente sempre com a alegria que lhe era peculiar. E era no ambiente da CEU Trilha de São Francisco que nos víamos e compartilávamos os planos de fardamento na Santa Doutrina.
Fred faleceu dia 1º de julho, embora tenha providenciado o fardamento para a celebração de São Pedro, não alcançou a data com saúde para realizá-lo.Eu continuo ligada ao caminho que havíamos traçado no Santo Daime,embora impedida de estar fisicamente com a assiduidade merecida nas sessões regulares.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Deglutindo a volta ao mundo real...

A historinha é clássica: " Era um garotinho sensível,cheio de amor p dar,mas a sociedade falida fez sua cabeça mudar". Acontece que não pode ser assim obrigatório mudar a cabeça por causa da violência do mundo. A mim parece rendição.Não sei em que nível de esquizofrenia isto me inclui,mas eu gosto de gostar da vida de continuar sendo eu, de rir de bobeira, de achar que quem é diferente vale o meu esforço.Enfim, hoje vim escrever porque já degluti por duas noites mais um triste episódio das minhas aventuras no "mundo real".Então: 1º vou marcar posição e dar o contexto do meu olhar - Estive numa espécie de morte voluntária por vários anos por sentir na carne o qto é violento e triste o "mundo entre os homens". Quando me senti assim mais forte para suportar a diferença física e mental que passei a carregar comigo resolvi que meu retorno ao mundo dos vivos seria no curso de Filosofia ( afinal, que mal poderia acontecer por ali? Estaria protegida e poderia contribuir.).Nestes quase quatro anos na UFPel vi de quase tudo,mas tive também muita alegria.Na primeira Assembléia Geral que estive dois dirigentes se chamaram p o soco e nenhum pareceu se incomodar quando exigi autocrítica pública ( só um se apresentou numa folha amarfanhada no canto do mural do curso no dia seguinte). Meses depois o outro protagonista deste triste episódio, então diretor do DA,me abordou no corredor p perguntar se já sabia q estava "passando a gestão pras gurias".Como sou meio xarope com este negócio de democracia, achei que não era bem assim esta coisa de "passar" gestão. Para minha surpresa quando questionado sobre isto o sujeito respondeu: é tradição aqui na Filosofia, nunca tem disputa, quem tá a fim do trabalho fica c o DA.Guardo a surpresa daquela resposta até hoje. Como assim, é da tradição não ter disputa?O que vi na vida real foi justamente o oposto,na Filosofia posição tem de monte, só não há normalmente uma disposição respeitosa ao que tange à participação política.Somos praticamente doutrinados a desprezar a esfera da contingência e identificá-la como uma tarefa para "teóricos menores" como os sociólogos e antropólogos.E ao longo do curso a doutrina adquire o controle social dos colegas que passam a exigir adesão na conduta de todos.Ao mesmo tempo em que as aulas demonstram as limitaçãos das teorias para a práxis quando transformadas em programas de ação nos demonstramos desleixados com a aquisição das habilidades necessárias para nossa melhor intervenção com as ferramentas que nos oferecem.Somos via de regra bons "faladores", mas péssimos "ouvidores". Os quadros dirigentes da Filosofia são algo próximo aos portadores de múltiplas personalidades. Explico: são um que intervém e atua sob o comando da autoridade do professor na sala de aula e outro quando estão numa situação de autogestão com seus iguais.Outro ainda aparece quando a autogestão lhe oferece poder de direção ( que oscila entre o impaciente-desrespeitoso c o outro e o autoritário).Digo tudo isto para ilustrar os eventos da última Assembléia de Estudantes da Filosofia que tive a tristeza de participar, onde a habilidade máxima de condução se deu apenas enquanto não exigiu capacidade de escuta ou respeito mínimo à objetividade de conteúdo oferecida.Me refiro ao fato de constatar o despreparo  da mesa da referida assembléia pela insegurança com que conduzia o processo, impedindo uma questão de encaminhamento que não contava como defesa de posição porque o horário avançava e tinham que garantir as inscrições. Ora...qualquer cursinho básico de condução de reuniões difere questão de encaminhamento e dá-lhe prioridade justamente porque encaminha o processo abreviando-o. Enfim, confio pessoalmente na intencionalidade dos dirigentes que cito,porém não poderia furtar-me deste registro e furtar-lhes destas observações ( que nunca tiveram instância concreta para serem partilhadas e não o seriam em fala de 2 minutos numa assembléia).No jogo democrático, o acordo mínimo é o cumprimento da lei, tendo parte cumprido a lei e outra parte não: garante-se o direito da parte cumpridora e ponto.30 segundos é metade de um minuto, não quer dizer que sua fala de 2 minutos terminou.Quem dirige tem direitos iguais e deveres superiores, acolhe esta realidade quando pede procuração grupal para dirigir,portanto tem por obrigação garantir ambiente de escuta e respeito mesmo ao conteúdo que pessoalmente não lhe seja do agrado.No mais, só posso parabenizar a lucidez da decisão da Assembléia e desejar que mais que a preocupação de me agradar pessoalmente com pedidos de desculpas posteriores nossos dirigentes se preparem para as situações que ainda não conseguem atuar a contento para que possamos de fato construir algo que se aproxime de uma esfera pública democrática no curso de filosofia da UFPel.Ainda penso que esta disposição é um compromisso que assumimos coletivamente, não gostaria de ser convencida do contrário. Obrigada pela escuta e pela consideração que for possível a estas palavras. Abraço Fraterno. Fernanda

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Flor é nascimento,Flor pode ser morte! É mudança e movimento,mas precisa um dia ser botão!

Créditos a quem tem crédito...

O poema A Morte é uma Flor é do Poeta Paul Celan. A postagem anterior é desta minha louca cabecinha que tenta desabrochar para a tal flor que nunca vem...Só inspiração dos sinais das sensações de hoje.

Flor é nascimento,Flor pode ser morte! É mudança e movimento,mas precisa um dia ser botão!

Reconhecendo os sinais!E mais palavras!

A morte é uma flor

A morte é uma flor que só abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.
Abre sempre que quer, e fora de estação.
E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.
Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.

sábado, 20 de março de 2010

Como assim, transferir parte da Biblioteca do ICH???

O conteúdo da informação é o seguinte:

"(...)

Por decisão da administração central, sem consulta ao setor de bibliotecas e
sem qualquer acordo com os cursos e unidades acadêmicas sediadas no prédio
(ISP, FAE e ICH), provavelmente com vistas a uma solução para a falta de
salas de aula (resultado de falta de planejamento), decidiu despejar
IMEDIATAMENTE a biblioteca do CCS, sem tomada de quaisquer procedimentos
próprios a uma das coisas mais delicadas que existem, que é fazer
transferência de acervos. O acervo será PARCIALMENTE transferido para o
galpão em que funcionava o Tholl, espaço absolutamente impróprio nas
condições atuais para sediar uma biblioteca, seja pela poeira, pela umidade
ou pela possibilidade de goteiras sobre o acervo, uma vez que o galpão não
possui teto, apenas telhado. Além das consequências inevitáveis,
indesejáveis e potencialmente catastróficas para o acervo, o mesmo ficará
fragmentado, pois o setor de periódicos ficará onde se encontra hoje (com a
falta de pessoal atual, como atenderão dois espaços?), e, de grande
gravidade, o serviço de biblioteca do CCS ficará fechado por no mínimo 2
meses. E, quando voltar, funcionará de forma absolutamente precária, sem os
avanços mínimos alcançados no local atual (sistema antifurto, câmeras, ar
condicionado, salas de estudo, etc.), graças a projetos elaborados por
nossas raras, heróicas e abnegadas bibliotecárias (façam um exercício de
imaginação, e tentem adivinhar quantas bibliotecárias do quadro a UFPEL
possui para atender seus mais de 13 mil noticiados alunos!).

(...)

Efetivamente, a transferência da biblioteca para um lugar mais adequado, que
pode ser o prédio da frente, com base em um projeto técnico e arquitetônico
qualificado e inteligente, é uma reivindicação antiga de nosso prédio, face
às limitações estruturais do terceiro piso para comportar o peso da
biblioteca. Ao mesmo tempo, o espaço a ser liberado, se devidamente
planejado, com a participação das três unidades, pode ao mesmo tempo ajudar
a resolver tanto problemas de salas de aula quanto problemas resultantes da
falta de espaço para permanência de professores. Todavia, a forma
atropelada, já conhecida de todos, pela qual aquele espaço será readequado,
certamente levará a um resultado insatisfatório, com desperdício de
recursos, pois certamente será mais uma solução temporária.
Precisamos de uma ação já na segunda-feira, sob pena de ao longo da semana a
nossa biblioteca ser despejada.

domingo, 14 de março de 2010

O sábado de Reponte: uma experiência!

O Reponte coincidiu com meus aniversários nos últimos 26 anos. Sempre me presenteou: com a viagem dos meus pais para festejar só com os amigos,com um acampamento divertido nos dias de festival,ou, como ontem,com a devolução das sensações de Liberdade, que há muito não sentia.
Dia 12, sexta-feira comemorei meus 37 anos, com minha família e os amigos mais próximos. Foi um dia de felicidade em pílulas, não teve festa,por assim dizer, mas durante todo o dia estava chegando uma visita carinhosa, um abraço fraterno,celebrando com alegria mais este ano de vida.Minha amiga Carla,aniversaria dia 13 e embora tenha trabalhado toda a madrugada do dia 12 para 13 recebeu os amigos para celebrar seu aniversário na tarde deste sábado, com o carinho e a simplicidade que lhe é comum no convívio.Antes que eu voltasse para casa ela me chamou num cantinho e perguntou com um olhar de quem espera uma afirmativa: "Vais ir ao Reponte?".Logo lhe respondi que gostaria muito,mas dependeria das condições concretas de estar lá,o que dava a dimensão exata e verdadeira do que estava pensando( se o corpo responder bem, se tiver transporte possível, se tiver companhia bem disposta).Ela não demorou dois minutos para circular e retornar com três convites do Reponte ( o olhar dizia algo como "quero te ver lá,divirta-se um pouco").Foi o tempo de chegar em casa, organizar o transporte e preparar quem quisesse ir comigo para começar a bela aventura que foi estar no Reponte na noite de sábado.
Já na chegada o quadro conhecido de quem sofre de qualquer limitração física: uma fila enorme e um quase "vou embora" pedindo p desistir,mas o olhar solidário das pessoas que ali estavam foi imediato:" a senhora não precisa ficar na fila, imagine.fale ali c a mocinha da porta,pode ser que haja um atendimento especial". Falei com a moça que controlava a entrada, sem nenhum muchocho e muito prestativa me disse que eu poderia entrar à parte da fila com meu filho, que me acompanhava.Foi um feliz traço de civilidade que tenho encontrado pouco no mundo desde que passei a ter uma condição física limitada pela hemiplegia do lado esquerdo.Feliz da vida, senti que tinha o direito de estar ali, sentei um pouco, jantei com meu filho e ao ouvir os primeiros movimentos no palco, me dirigi ao espaço onde aconteceria o show de abertura com Sérgio Rojas. As pessoas organizavam suas cadeiras de praia na lateral do galpão, onde encontrei minha vizinha Adriana e suas filhas Luana e Natália que logo providenciaram uma cadeira extra para mim e "circuladas" esporádicas para meu filho adolescente pouco ambientado àquele tipo de programação.Assim que começou o show,conectei absolutamente minha atenção à música do violão de Sérgio e ao ambiente dos violinos que lhe acompanhavam. Era encantador o envolvimento daquele homem com sua música e a qualidade do repertório escolhido, com muito respeito ao público.Diria que percebi um ato de amor naquela seleção de músicas.Com meus acompanhantes cuidando de percorrer todos os espaços do Festival pude me deleitar ( é esta a palavra,sim)com as sensações da música apresentada.Dedicação total,todos os sentidos voltados para o espetáculo e uma atividade de memória que só um ambiente de imersão daqueles pode proporcionar:
- Em espaços como o Reponte sempre fui daquelas pessoas que arriscam uma dança quando a música convoca,mesmo que todos estejam paradinhos em seus lugares,neste ponto, desfrutei como criança de todas as oportunidades que tive de expressar o fruir da música na dança.Sempre foi um exercício livre de mim mesma o dançar o que escutava. Uma relação com a arte mais sagrada e mais pura  que é a música.
- Depois de ter meus movimentos limitados percebi que certas situações, certas melodias me causavam sensações físicas da memória deste exercício,embora não pudesse repetir os movimentos da dança sabia exatamente como eles se processariam e poderia simulá-los mentalmente, com muito prazer, embora não sem dor.Era a esfera de liberdade possível e no show do Sérgio Rojas do Reponte pude dançar nas sensações da minha memória como se dançasse fisicamente. Ouvir Mariposa Technicolor e mentalizar os movimentos agora impossíveis mas conhecidos foi uma sensação inequívoca. Existiu, experimentei,frui como se não houvesse impedimentos. E o melhor de tudo é que meu vestido era de todas as cores e não havia pesos ou tristezas, só magia da música e muito amor no ar daquele espaço de respeito e alegria. Me perdoem os que entendem o sofrimento como razão de vida, mas é assim que deve ser: pela simples alegria de ser!Diferente ou igual,um que vive e tem direito à vida com o que tem de melhor...Para o povo,sim,mas por que não com violinos?Sentadinha numa cadeirinha de praia,mas cercada de amigos e não desesperada com a segurança da bolsa.Limitada fisicamente,mas bailarina, por que não? Não me venham dizer que isto é pouco! Não há condenação,pode haver a sentença de conviver com limitações,mas há plenitude, há felicidade e buscá-la é tudo. Permanência só em Deus, mas o único Deus possível à condição humana é aquele que consigo realizar em mim nos momentos que a ele me dedico.A arte é Deus em mim, o pensamento, o imortal é o que comunico de Deus em mim. Este registro é Deus em mim, porque é imortal na minha multiplicação desta experiência na vida de outros. A vida é mais que exercícios do pequeno poder. A vida é Liberdade,é o amor realizado, estarmos juntos e fruir da música.O resto é morte,tristeza e solidão! Eu escolho a vida!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Epicuro terapêutico!

Quando se é jovem, não se pode evitar de filosofar e, quando se é velho, não se deve cansar de filosofar. Nunca é muito cedo ou muito tarde para cuidar de sua alma. Aquele que diz que não é ainda, ou que não é mais tempo de filosofar, parece àquele que diz que não é ainda, ou não é mais tempo de atingir a felicidade. Deve-se, então, filosofar quando se é jovem e quando se é velho, no segundo caso (...) para rejuvenescer ao contato do bem, pelas lembranças dos dias passados, e no primeiro caso (...) afim de ser, ainda que jovem, tão firme quanto um velho diante do futuro.
Filosofo, filosofo como modo de existir...é tenso, complicado,mas terapêutico para as dores da vida concreta.O pensamento acolhe a tensão, acaricia a ira e embala a criança teórica.Se pensar sobre ou pensar algo me faz o que sou, penso sobre e penso algo para ser o meu melhor! Dói menos que o mundo concreto oprimindo, me oferece soluções criativas, alegrias possíveis e realizações razoáveis. Portanto: ainda prefiro filosofar!Nem jovem nem velha,apenas uma antecipação do meu final triste e demasiadamente humano de ser decadente desde que nasci.A filosofia é minha única liberdade. Nem boa nem má, esta sou eu: amo a música, os sabores,meus pais, meu filho,cada uma das minhas sobrinhas e primas,tios e tias.Amo, sim, o meu marido e os meus amigos. Amo a vida e a felicidade. Mas o amor maior que há é o que me aceita e oferece todas as melhores possibilidades: a Filosofia! Exige de mim só o meu tempo e dedicação, oferece-me o mundo inteiro!Filosofar é terapêutico,vivo melhor por acompanhá-la, sou melhor por segui-la! Amo à Filosofia e à possibilidade de pensar como arte de mim mesma!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010