quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Tô relendo "A Promessa da Política" da Hannah Arendt e... Pensaaandoooo...


No capítulo sobre Sócrates, Hannah Arendt identifica o que só conheço como definição agora: a maiêutica como fazer político.Dediquei a vida a "estar entre os homens" e assumir a responsabilidade de oferecer a minha melhor possibilidade para o encontro das boas perguntas: "pensar junto". "agir em concerto", "multiplicar-me na ação do outro". Muito mais como alguém que proporciona condições para uma síntese coletiva o mais plural possível,no acesso garantido pela igualdade e no poder exercido pela liberdade da diferença.Ao longo da prática formativa nos espaços de organização dos trabalhadores brasileiros fui reconhecendo questões que a Filosofia sistematiza para mim  recém agora, com os estudos mais formais.Sócrates foi o 1º filósofo que se me apareceu como referência e maestria.Não por acaso:foi o mais sábio dos filósofos.Quando Arendt fala sobre a prática socrática da maiêutica percebo todos os traços da ação política percorrida por mim na opção pela tarefa de Formação Política e não pelos espaços eletivos da vida pública. Só teria qualquer autonomia trabalhando sem vínculo contingente que obedecesse outro interesse que não o mais elevado e universal possível: os interesses de formular pensamentos que coordenassem racionalmente a ação política na observação da máxima coerência e pluralidade.Surpresa foi a minha saber que nossa prática tinha uma origem tão remota e cheia de autoridade: Sócrates!Cito Hannah Arendt:"Para Sócrates, a maiêutica era uma atividade política, um dar-e-receber sobre uma base estrita de igualdade cujos frutos não podiam ser medidos pelo resultado de se ter chegado a esta ou aquela verdade geral. É,portanto,ainda um marco da tradição socrática que os primeiros diálogos de Platão frequentemente acabam de forma inconclusiva, isto é, sem resultados. Ter trazido um tema ao debate, ter falado de alguma coisa, a doxas de algum cidadão pareciam resultado suficiente."
" Na vida privada se está oculto e não se pode aparecer,nem brilhar;consequentemente,ali,nenhuma doxa é possível. Sócrates,que sempre rejeitou cargo e honra pública,nunca se retirou para a vida privada,mas ao contrário,circulava  pela praça do mercado em meio a estas doxai, opiniões.O que Platão chamou de dialeghestai, Sócrates chamava de Maiêutica: a arte do parto.Queria ajudar as pessoas a dar a luz a seus próprios pensamentos e encontrar a verdade em sua doxa."
Parece uma reflexão pertinente para os que pretendam uma prática socrática,a de estabelecer claramente para si,os âmbitos relacionais.A atitude maiêutica torna-se hábito,provoca, extrai...traz à luz e dá aparência publicizando o que era privado antes da comunicação.
A maiêutica é libertária,plural,solidária.Exige o sacrifício e a disposição do parteiro e lhe oferece a participação ativa dos novos inícios. As sementes de verdade estão nas doxa, o parteiro ajuda a trazê-las à luz para dar-lhes a conhecer.Não é pai,nem mãe:é servidor, dirigente. Cria as condições para conhecer e pensar. 
Tenho concluído ao longo das minhas leituras que a maiêutica é a prática filosófica com maior grau de atuação para o fortalecimento do momento fundacional das comunidades humanas. Gera condições para a isegoria,dá permanência à autoridade pela memória,e, se generalizada na formação cidadã,provoca controle social e legitimação crítica de todas as ações institucionais à luz dos valores fundacionais da comunidade em questão pela participação das opiniões ativas no trato das questões práticas comuns.
Postei um beija-flor nesta postagem porque é assim que vejo o filósofo socrático:um beijador de flores iguais e distintas entre si,um provocador de sabores,cores e fertilização.Seria impossível esta leitura sem uma imagem...Fernanda Ávila




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